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Tarcísio coloca tucanos de SP em escanteio ao escalar equipe

Integrantes do União Brasil também se queixam da ausência de representantes da sigla na equipe técnica de 105 nomes já anunciados pelo governador eleito em São Paulo no processo de transição

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Logo após o primeiro turno das eleições, Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que queria o apoio dos tucanos, mas não via sentido em ter Rodrigo Garcia (PSDB) em seu palanque.


Rodrigo havia acabado de anunciar "apoio incondicional" a Tarcísio e Jair Bolsonaro (PL), com direito a tapete vermelho no Palácio dos Bandeirantes.

A falta de entusiasmo de Tarcísio com o apoio, na ocasião, se devia à crença de que não fazia sentido pregar mudança e depois manter o grupo que está há três décadas no poder estadual.

Até o momento, esse humor vem se confirmando na composição do futuro governo Tarcísio, que escanteou tucanos e vai desalojar aliados da legenda de pastas estratégicas.

O núcleo duro da gestão Tarcísio são os nomes ligados a Gilberto Kassab (PSD) e as pessoas que trabalharam com o futuro governador quando ele era ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.


Por ora, apenas um bolsonarista raiz ganhou cargo, o Capitão Derrite (PL-SP), na cadeira de secretário da Segurança Pública. Os tucanos não tiveram nem isso.

Tucanos próximos a Rodrigo afirmam que o governador não negociou cargos ou benesses ao declarar seu apoio ao candidato bolsonarista no segundo turno.


Nos bastidores, porém, membros do PSDB e da União Brasil apontam que havia a expectativa de que a Secretaria da Habitação pudesse ser conduzida por um desses partidos, que representam o grupo político de Rodrigo.


Além disso, havia o pleito de que Tarcísio apoiasse a recondução de Marco Vinholi ao comando do Sebrae, o que não deve acontecer. Os tucanos vinham dizendo que a continuidade havia sido acertada como retribuição pelo apoio do PSDB na disputa de segundo turno contra Fernando Haddad (PT).


Segundo apuração da coluna Painel, porém, as negociações no conselho do Sebrae-SP definiram que o conselho deve eleger na próxima quarta-feira (14) Nelson Hervey para a posição de diretor-superintendente.

Ele é ligado a Guilherme Afif Domingos (PSD), coordenador da transição de Tarcísio e aliado de Kassab.


Como prêmio de consolação, o partido deve ser contemplado com dezenas de cargos na estrutura da instituição.

A bancada tucana na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) ainda espera se reunir com Tarcísio para tratar do apoio do partido ao governador eleito, o que costuma envolver troca de cargos ou de emendas.


De qualquer forma, políticos do PSDB e da União Brasil leem sinais de que não serão contemplados pelo novo governador, já que também estão de fora da equipe de transição montada por ele.


Até o momento, os tucanos da Casa não receberam qualquer outro aceno, muito menos indicativos de que a sigla poderia continuar comandando a Assembleia, hoje a cargo de Carlão Pignatari. A permanência chegou a ser aventada em tempos mais otimistas.

A maior bancada será a do PL, aliado de Tarcísio, com 19 parlamentares. Membro da sigla, o deputado André do Prado (PL) é cotado para presidir a Alesp com apoio do futuro governador.


Já o PSDB encolheu na Casa, passando de 13 para 9 deputados. Entre alguns, o discurso é que é preciso se conformar de que perderam a eleição. Ao mesmo tempo, é necessário se adaptar à nova realidade.


Mesmo deputados de partidos da coligação de Tarcísio afirmam que suas próprias legendas não têm tanto espaço, que o governador eleito tem escolhido secretários de sua confiança e cota pessoal --e que é preciso respeitar essa decisão.


A orientação recebida pela equipe de transição é escolher os cargos por critérios técnicos, com objetivo de entregar o que chama internamente de "produtos".

Por exemplo, há uma grande quantidade de profissionais voltados à privatização de estatais, tendo como meta principal a desestatização da Sabesp.


Os aliados de Tarcísio argumentam que, embora ele esteja privilegiando nomes técnicos em detrimento dos partidos, o que poderia prejudicar a formação de uma base de apoio, o futuro governador não deve ter problemas de articulação política.

A aposta é a de que Kassab saberá negociar e atrair deputados, prefeitos e partidos.

Ou seja, ao escalar Kassab como secretário de Governo, Tarcísio demonstra, na visão de aliados, que não descuidará da articulação política.


Em evento na última quinta-feira (8), Tarcísio reforçou esse papel projetado para o presidente do PSD.

"Do ponto de vista político, a gente tem um grande para-raios político que vai ser o Kassab, secretário de Governo. Eu acho que não conheço ninguém mais habilidoso para trabalhar com a política, da relação com a Assembleia, da relação com os prefeitos, da relação com Brasília, que vai ser superimportante", disse.


Tarcísio também irá desalojar um dos principais aliados dos tucanos em São Paulo, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), que mantém indicações na cobiçada pasta de Logística e Transportes. Com um orçamento bilionário, a secretaria é responsável por obras de rodovias no estado.

Após Rodrigo ficar de fora do segundo turno da eleição, Leite mobilizou a sua militância e seu reduto a favor de Tarcísio e Bolsonaro e contra Haddad. O esforço, até agora, porém, foi uma via de mão única.


A pasta será fundida com a de Infraestrutura e Meio Ambiente, e ficará a cargo de Natalia Resende, técnica que já trabalhou com Tarcísio no Ministério da Infraestrutura. Foi uma maneira que o futuro governador encontrou de blindar a área que é sua prioridade.

O tipo de ingerência política que alguns grupos têm sobre as pastas também pode estar perto do fim. A ideia de Tarcísio é acabar com a chamada "porteira fechada", que significa que um partido ou político teria influência sobre todos ou boa parte dos cargos de determinada secretaria.


Em entrevista à Folha, o ex-tucano Alexandre Frota (Pros-SP), deputado federal, afirmou que, com Tarcísio mais ligado a Kassab, rompido com Rodrigo no passado, do que a Bolsonaro, talvez os acertos entre Rodrigo e bolsonaristas para apoiar Tarcísio não sejam cumpridos.


"Talvez os acordos que foram feitos, e foram feitos acordos, [...] sejam reconversados agora. Pelo que eu estou vendo, o Tarcísio tem a tendência de se afastar do bolsonarismo radical", disse.

Bolsonaristas, por sua vez, têm se incomodado com o protagonismo do grupo de Kassab. Isso se soma a sinalizações dadas pelo governador eleito, como a que não é um "bolsonarista raiz" e imagens de conversa descontraída com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, visto como inimigo por apoiadores do presidente.



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