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Policiais militares agridem jornalistas no RS e algemam repórter

A agressão foi repudiada por entidades como ANJ (Associação Nacional de Jornais), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), ARI (Associação Riograndense de Imprensa) e Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)


© Getty - imagem ilustrativa - Por: Folha Press


PORTO ALEGRE, RS - Dois jornalistas foram agredidos por policiais militares com chutes depois que um dos repórteres foi proibido de fotografar um caminhão do Exército. O caso ocorreu em Alegrete, no sudoeste gaúcho, a 440 km de Porto Alegre, na noite da última quinta-feira (18).

O repórter do jornal Em Questão Alex Stanrlei, 47, estava em frente à delegacia da cidade, onde seria registrada a ocorrência de um caso de abigeato -furto de animais- de uma propriedade do Exército em Rosário do Sul, cidade próxima. Ele foi impedido de fotografar, teve o celular apreendido, levou chutes e chegou a ser algemado.

Mantido sentado no chão em frente à delegacia por policiais da Brigada Militar (a PM gaúcha), Stanrlei conseguiu chamar o proprietário do jornal. "Estou detido aqui", disse a Paulo de Tarso Pereira, 60, diretor do Em Questão.


O jornal circula duas vezes por semana e, desde o início da pandemia do novo coronavírus, precisou interromper a distribuição da versão impressa.Chegando ao local, Pereira questionou por que o repórter estava detido e a resposta dos policiais teria sido de que a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) de Stanrlei estava vencida e que ele não portava documentação. Segundo o diretor, os policiais ainda pediram que ele provasse que era o proprietário do jornal e zombaram de sua idade.

"O senhor é um velho, não poderia estar na rua, estamos em uma pandemia", teriam dito os policiais a Pereira, jornalista desde os 18 anos.

De acordo com o jornalista, os policiais não aceitaram os questionamentos sobre impedir o livre exercício da atividade jornalística e agrediram os repórteres logo após arrancarem o celular de sua mão.


"Um me atacou e me deu uma gravata, começou a me asfixiar. O Alex se levantou para me defender e foi agredido também, começaram a chutar. Foi algemado, pegaram o celular dele. Fiquei com lesões no pescoço, fiquei no chão e achei que ia morrer", relatou o diretor.

Pereira foi liberado da delegacia de madrugada, somente após o registro da ocorrência do caso de abigeato, que era tema da cobertura jornalística, e após o registro da ocorrência dos policiais contra os jornalistas. Os policiais alegaram desacato e que foram insultados.


Por fim, o jornalista pôde registrar sua própria ocorrência sobre a agressão sofrida.

"Não estou bem, tem uma dor moral, um abalo psicológico. Na sexta-feira passada (19) não consegui fazer o jornal que circula no sábado em versão digital", disse.

A agressão foi repudiada por entidades como ANJ (Associação Nacional de Jornais), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), ARI (Associação Riograndense de Imprensa) e Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul disse que a Brigada Militar instaurou um inquérito. A secretaria afirmou que, com a BM, "reforça o compromisso em proteger a vida, a sociedade, o Estado de Direito e a democracia, não admitindo ações individuais fora dos regulamentos e ditames legais".

"Salienta ainda o respeito ao trabalho dos profissionais da comunicação, facilitando, diariamente, as coberturas de ações policiais e o acesso às informações, garantido o pleno exercício da liberdade de imprensa", disse em nota.


Uma tenente e um sargento do Exército teriam dado a ordem para proibir a fotografia do caminhão, segundo os jornalistas. Ambos testemunharam a agressão, mas não a impediram, de acordo com os repórteres.

Procurado pela reportagem, o Comando Militar do Sul afirmou que "não há registro de agressões promovidas pelos militares do Exército. O Comando Militar do Sul aguarda a resolução, por parte do Inquérito Policial Militar, para que haja elucidação e, se for o caso, devidas responsabilizações".



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