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Operações policiais deixam ao menos nove mortos em três dias no RJ

Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostraram que o número de mortes por intervenção policial saltou de 79, em dezembro, para 149 em janeiro


© Shutterstock - POR FOLHAPRESS Operações da Polícia Militar e da Polícia Civil do Rio de Janeiro realizadas entre quinta-feira (4) e sábado (6) resultaram em ao menos nove mortes, a despeito da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que restringiu as ações policiais no estado para casos excepcionais enquanto durar a pandemia da Covid-19. Especialistas em segurança pública e defensores dos direitos humanos alertam para o sistemático descumprimento da determinação do Supremo. O ministro Edson Fachin convocou para abril uma audiência pública para coletar informações e subsidiar o estado na formulação de um plano de redução da letalidade policial. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostraram que o número de mortes por intervenção policial saltou de 79, em dezembro, para 149 em janeiro. Foi o maior índice registrado desde abril do ano passado, antes da decisão de Fachin de restringir as operações. Na quinta-feira (4), a técnica de enfermagem Luanna da Silva Pereira, 28, foi atingida na porta de casa em Vigário Geral, zona norte do Rio, durante operação da Polícia Civil. Após sua morte, amigos e familiares fizeram uma manifestação na região. Luanna deixou uma filha de nove anos. "Ela morreu quando saía para trabalhar, então antes que venham associar Luanna ao tráfico porque muita gente é assim né? [...] Luanna era só mais uma mãe que agora deixa sua filha de nove anos", escreveu nas redes sociais William Reis, coordenador do Afroreggae. Luanna participou da banda Parvati, um dos projetos da ONG. Ainda na quinta-feira, uma operação da Polícia Militar no Complexo do Chapadão, zona norte do Rio, resultou na morte de dois jovens que serviram no Exército: Guilherme Martins, 20, e Gabryel Marques, 21. Segundo a família, eles haviam saído para beber com amigos e não tinham envolvimento com o tráfico. "Ontem, antes de receber a notícia do meu filho, eu estava chorando a morte da menina de Vigário Geral [Luanna Pereira]. Agora foi meu filho de 20 anos com a vida inteira pela frente", afirmou à TV Globo a madrasta de Guilherme, que não quis ser identificada. No twitter, a corporação informou que houve confronto entre agentes do 41º BPM (Irajá) e criminosos do morro do Gogó. Também disse que "três indivíduos foram encontrados ao solo" e socorridos ao hospital. Foram apreendidos, de acordo com a PM, uma pistola, uma granada, rádio transmissor, munições e drogas. Na sexta-feira (5), Paulo Roberto da Silva, 45, foi atingido numa ida à padaria, na Vila Kennedy, zona oeste da cidade, quando cruzou o caminho de uma ação da Polícia Militar. Ele trabalhava numa rede de supermercados e deixa dois filhos e uma neta. Nas redes sociais, a PM afirmou que policiais do 14º BPM (Bangu) foram atacados por traficantes no interior da comunidade da Vila Kennedy. A corporação disse que houve confronto e que três criminosos foram feridos. "Beto era meu amigo! Beto era trabalhador! Beto tinha residência fixa! Beto era pai, avô, tio, dindo! Beto era filho, irmão! Beto tinha uma história!", escreveu o amigo Jorge Melo nas redes sociais.

No sábado, outra operação da Polícia Militar resultou em cinco mortos no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte da cidade. Entre as vítimas, está Valmir Pereira Candido, 42, que trabalhava como montador de andaimes em uma refinaria da Petrobras e que havia saído de casa para encontrar um amigo. Segundo a família, agentes da polícia entraram no local atirando. "Não teve confronto nenhum, eles já chegaram atirando. Não deu tempo nem de os meninos se mexerem. Jogaram meu marido no camburão como se fosse um bicho, junto com os outros, e não deixaram a gente se aproximar para ajudar", afirmou a viúva Valeria Candido ao jornal O Dia. Nas redes sociais, a torcida organizada Flamacacos, da qual Valmir fazia parte, fez uma homenagem à vítima. "06 de março de 2021, sabadão, folga de mais um trabalhador, pai de família, respeitador e amigo de todos... Walmir, estava sentado na porta de casa e foi assassinado em uma incursão da @PMRJ que encheu a caçamba da viatura levando cinco vidas", diz o texto. A reportagem questionou a Polícia Civil e a Polícia Militar sobre a circunstância das mortes e sobre a abertura de inquéritos para investigar a autoria dos disparos. Também perguntou o que justifica as operações diante da restrição determinada pelo STF, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro, responsável pelo controle externo das atividades policiais, reforçou que a decisão do Supremo permite operações nas comunidades do Rio de Janeiro "apenas em hipóteses absolutamente excepcionais". Na última semana, o Ministério Público passou por uma reestruturação e deu fim ao Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), que tinha como principal atribuição atuar nas investigações penais relacionadas a crimes cometidos por policiais.



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