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Familiares identificam corpos após crime em São Gonçalo; o que se sabe sobre o caso

Moradores buscam informações e observam trabalho da polícia e da Defesa Civil no Complexo do Salgueiro

CANAL NBS - POR BBC

Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), lidam nesta segunda-feira (22/11) com o rescaldo de um fim de semana de violência e confrontos com a polícia, que deixaram ao menos oito pessoas mortas - segundo alguns observadores, já chegam a 14 os corpos retirados dos manguezais da região, número que não foi oficialmente confirmado pelas autoridades.


Os próprios moradores da região de Palmeiras, dentro do complexo, tiveram de retirar os corpos dos mangues e começavam a identificá-los nesta segunda-feira, até a chegada dos Bombeiros e da Polícia Civil.

Alguns moradores acreditam que as mortes foram uma retaliação da Polícia Militar (PM) fluminense à morte do sargento Leandro da Silva, que foi assassinado por criminosos na noite de sábado (20/11) quando iniciava um patrulhamento no Complexo do Salgueiro.

"Quando o PM morreu no sábado, já imaginávamos que haveria uma operação de vingança", afirmou à BBC News Brasil Gabriel Siqueira, diretor da Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj), que está acompanhando o caso in loco.

Segundo Siqueira, os moradores já retiraram 14 corpos do mangue, sendo 11 de homens e 3 de meninas. Até o momento, porém, a PM confirma a existência de oito civis mortos. A Polícia Civil também fala em oito mortos, sete deles já identificados. Entretanto, seus nomes não foram revelados.

O diretor da Faferj diz que os moradores relatam sinais de tortura e execução (como tiros na cabeça) em alguns dos corpos, o que também foi relatado à GloboNews por um morador local.

"Os corpos foram todos jogados no mangue, com sinais de tortura", disse esse morador, que pediu anonimato. "As pessoas (estavam) uma jogada em cima da outra. Sinal totalmente de chacina mesmo."


De acordo com Siqueira, é "sabido" na região que alguns dos mortos estavam envolvidos com o narcotráfico. "Nossa posição é de que a polícia tem que prender as pessoas na legalidade. O Estado não pode fazer o mesmo que os bandidos", afirma o representante da Faferj.

Ele agrega, ainda, que outra parte dos mortos "não tinha nada a ver com a história" e tampouco tinha passagem pela polícia.

O porta-voz da PM fluminense, tenente-coronel Ivan Blaz, afirmou mais cedo à TV Globo que a área dos crimes é "extremamente complicada de se operar", por ser dominada pelo traficante Antonio Ilario Ferreira, conhecido como Rabicó.

Blaz disse que houve confrontos intensos no bairro desde quinta-feira, culminando com a morte do sargento Leandro e com a ação da PM.


"Quando (o sargento) foi atacado, uma ação emergencial teve seu início, com a entrada do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) naquela região", afirmou à Globo.

Segundo ele, "uma fração" dos mortos na ação da PM era da quadrilha de Rabicó, "que investe duramente contra a população fluminense".

De acordo com a assessoria da Secretaria da PM do Rio, a ação do Bope ocorreu "após informação de que um dos indivíduos que atacaram a equipe do 7ºBPM no sábado, na ocorrência que vitimou o sargento Leandro da Silva, estaria ferido ainda no interior da região. As equipes foram atacadas nas proximidades de uma área de mangue com mata, ocorrendo um intenso confronto".

Em nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou que "as investigações estão em andamento pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG)" e que "os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) da região".

"Sete dos oito mortos no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, foram identificados. Destes, cinco possuem antecedentes ou anotações criminais. Um dos mortos que não possui antecedentes também estava com roupa camuflada semelhante a do restante do grupo", continua a nota.



Ivan Blaz afirmou que o resultado - de ao menos oito mortos - "não é o esperado no mundo civilizado", mas agregou que a criminalidade na região torna a situação muito complexa e que a ação do Bope foi "bem-sucedida" em conseguir cessar os confrontos armados no bairro.

'Região abandonada'

Segundo Gabriel Siqueira, da Faferj, a associação vinha se reunindo com autoridades fluminenses para alertar a respeito da alta volatilidade na região.

"Quinze dias atrás tínhamos feito alertas ao governador (Claudio Castro) e à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), já prevendo uma tragédia no Salgueiro", diz. "É uma região abandonada, sem luz, sem água, sem saneamento. A violência tem se acirrado. Houve 40 mortos (por homicídio) em 60 dias por ali. Mas nada se resolveu."

O Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada, mapeou, só em São Gonçalo, 47 chacinas, com 169 mortos, desde julho de 2016 - sendo 35 delas ocorridas durante operações policiais.


"No Complexo do Salgueiro, houve 11 chacinas em pouco mais de cinco anos, quase a metade delas (5) somente neste ano", diz nota do instituto.

"O que aconteceu nesse final de semana no Complexo do Salgueiro é uma tragédia, mas não uma exceção", afirmou, também em nota, Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado. "Estamos falando de tragédias que se repetem a cada dois meses."

Couto pede a retomada, pelo Supremo Tribunal Federal, do julgamento da ADPF 635, medida que restringe operações policiais não urgentes em favelas do Rio de Janeiro no período de pandemia - e que, segundo defensores dos direitos humanos, tem sido constantemente desrespeitada pela polícia fluminense.


"É imprescindível que os ministros do STF se posicionem exigindo a mudança nos padrões de atuação das polícias, adotando a vida como prioridade máxima. Isso só vai acontecer se houver de fato a formulação de uma política de segurança condizente com esses parâmetros e se a mesma for aberta ao controle da sociedade civil. É nessa direção que o STF precisa se posicionar", concluiu Couto.

Em nota à BBC News Brasil, a assessoria da Secretaria de Estado de Polícia Militar diz que, agora, a corporação permanecerá na região de Palmeiras "a fim de garantir o trabalho de perícia da Polícia Civil".


"O comando da corporação já instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar todas as circunstâncias da ação e colabora inteiramente com as investigações", prossegue a nota.

Segundo a PM, na ação em Palmeiras ""foram apreendidos duas pistolas, 14 munições calibre 9 mm, 56 munições de fuzil calibre 762, cinco carregadores (02 para fuzil e 03 para pistola), um uniforme camuflado, 813 tabletes de maconha, 3.734 sacolés de pó branco e 3.760 sacolés de material assemelhado ao crack".

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