Rede de saúde da capital entra em colapso e leitos, que antes salvavam vidas, começaram a tirá-las, pois pacientes infectados com a covid-19 não tinham como respirar. Desespero veio à tona com relatos nas redes sociais. Governos sabiam que insumo já estava faltando
crédito: AFP / Michael DANTAS - Por: Correio Braziliense
O pior quadro previsto para a pandemia do novo coronavírus, o de colapso do sistema de saúde, se concretizou em Manaus. E com uma agravante para o desespero de pacientes, parentes, profissionais de saúde e até mesmo de políticos: os internados começaram a morrer por falta de oxigênio para ajudá-los a respirar. Os leitos, que antes salvavam vidas, tornaram-se urnas funerárias, já que pessoas começaram a perder a vida asfixiadas. O quadro de terror e descalabro começou a vir à tona ainda ontem pela manhã, quando as redes sociais foram inundadas por depoimentos de médicos, enfermeiros, auxiliares que viam aqueles que estavam sob seus cuidados não resistirem porque lhes faltava o oxigênio necessário para respirar.
Em meio ao caos e por reconhecer que a doença dominou a rede de saúde, o governador Wilson Lima (PSC) informou que 235 pacientes seriam transferidos de Manaus para outros estados. No decorrer do dia, relatos e imagens de pessoas buscando cilindros de oxigênio para levar aos seus parentes em unidades de saúde da capital amazonense tomaram as redes sociais. Com a falta do produto, ficou comprometida, inclusive, a abertura de leitos que estavam prontos para serem habilitados, como informou a Secretaria de Saúde do estado.
O relato desesperado de uma servidora do Serviço de Pronto Atendimento e Policlínica Dr. José Lins, que viralizou nas redes, traduz o descalabro da saúde em Manaus. “Nós estamos em uma situação deplorável. Simplesmente, acabou o oxigênio de toda a unidade de saúde. É muita gente morrendo. Quem tiver disponibilidade, por favor traga aqui para o SPA e para a policlínica da Redenção. Tem muita gente morrendo. Pelo amor de Deus”, suplica ela no vídeo. Na postagem seguinte, ela registra dois cilindros chegando em viaturas policiais e os militares, às pressas, transportando o produto.
Toque de recolher
As alternativas adotadas às pressas, como a transferência de pacientes, são consequência de um desastre anunciado. O ministro Eduardo Pazuello foi ao estado justamente pela iminência de um colapso do sistema. E sabia da crise de oxigênio em Manaus — que entrou ontem em toque de recolher para evitar a propagação do vírus.
“Estamos vivendo crise de oxigênio? Sim. De abertura de UTIs? Sim. De pessoal? Sim. Então, é muito importante medidas que diminuam a entrada (hospitalar). Precisa tomar medidas para reduzir a entrada nos hospitais de outras doenças”, afirmou. Ontem, o governo amazonense determinou toque de recolher na tentativa de diminuir a circulação de pessoas e evitar novos casos.
Pazuello disse, na última quarta-feira, que a fabricação da empresa White Martins, principal fornecedora do insumo no estado, estava impactada, atendendo com 50% da sua produção, e que era uma “luta” conseguir oxigênio líquido ou gasoso em qualquer lugar. Ele citou, então, as operações das Forças Armadas, com logística aérea, fluvial e terrestre.
“Todos os monitores, todos os respiradores, todas as bombas de infusão, simplesmente tudo o que foi solicitado foi entregue, sem exceção. A logística disso tudo também está disponibilizada pelo ministério”, garantiu Pazuello, um dia antes de o sistema colapsar. Até a última quarta-feira, as Forças Armadas haviam entregue 350 das 386 unidades de cilindros de oxigênio previstas para Manaus. Em meio ao caos, o ministro realizou uma reunião de emergência para contornar a situação e evitar que mais vidas sejam perdidas pela falta de oxigênio.
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