Pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro foi feito, segundo Delgatti, em ligação telefônica intermediada pela deputada Carla Zambelli
CANAL NBS
O presidente Jair Bolsonaro (PL) é acusado de orientar que o hacker Walter Delgatti Neto assumisse um grampo telefônico feito contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. "O presidente precisava que eu assumisse o grampo. Eu era conhecido como o 'hacker da Lava-Jato' àquela hora. A ideia era que 'o garoto da esquerda' [que vazou as informações da Lava-Jato] assumisse esse grampo. Concordei em assumir porque era proposta de um presidente da República", afirmou Delgatti em depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos nesta quinta-feira (17).
Cronograma da ligação com Bolsonaro. O pedido feito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a Delgatti, segundo o próprio hacker, foi intermediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Na ocasião, conforme o relato de Delgatti, o motorista de Zambelli o buscou em Ribeirão Preto, em São Paulo, e o levou até as imediações de uma cidade próxima onde a parlamentar participava de ato eleitoral.
"Eu estava em casa, em Ribeirão Preto, pela manhã, quando a deputada Carla entrou em contato comigo e disse que o motorista ia me buscar para eu me encontrar com ela. Ela disse que o assunto era urgente", afirmou. "Ele [motorista] pegou a rodovia Anhanguera e foi até esse posto [de gasolina] próximo a uma cidade onde ela realizava campanha", acrescentou.
No encontro, Zambelli contatou o então presidente Jair Bolsonaro para ele conversar com Delgatti. "Ele me pediu para assumir o grampo", adiantou. "Ele [Bolsonaro] disse por telefone que esse grampo foi realizado por agentes de outros países e que, em troca de eu assumir o grampo, me daria o indulto. Ele também disse: 'se alguém mandar te prender, eu mando prender o juiz' e deu risada", concluiu.
Bolsonaro e Delgatti se encontraram para discutir sobre as urnas
Menos de uma hora após o início do depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos, o hacker Walter Delgatti Neto admitiu encontros com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio à campanha eleitoral do ano passado.
A primeira reunião com o chefe do Executivo aconteceu no Palácio da Alvorada, em Brasília, com intermédio da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Ali também estiveram à ocasião o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor de gabinete coronel Marcelo Câmara.
"Tomei café da manhã com ele [Jair Bolsonaro] e ele disse que eu estaria salvando o Brasil", afirmou Delgatti. "A conversa foi para falar sobre as lisuras das eleições. Por ser o presidente da República, eu fui. Lembrando que eu estava desamparado e sem emprego", acrescentou. O hacker disse à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que o presidente ordenou que ele fosse transportado até o Ministério da Defesa. "Eu cheguei [no Alvorada] e a conversa foi bem técnica. Até que o presidente me disse: 'a parte técnica eu não entendo, mas vou mandá-lo ao Ministério da Defesa e você explica aos técnicos'", disse.
Delgatti detalhou que o coronel Marcelo Câmara o levou até o ministério pela porta dos fundos. "Fui cinco vezes, ao todo, no Ministério da Defesa. Falei com o ministro Paulo Sérgio Nogueira e com o pessoal do TI [Tecnologia da Informação]", afirmou. "Ele [Bolsonaro] me assegurou um indulto caso eu fosse preso referente às ações sobre a urna eletrônica", disse.
Hacker Delgatti depõe à CPMI do 8 de Janeiro
O hacker Walter Delgatti Neto depõe à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos nesta quinta-feira (17). Preso preventivamente no início do mês após operação no interior de São Paulo, ele depôs novamente à Polícia Federal (PF) nessa quarta-feira (16), mas em Brasília.
À noite, o advogado Ariobaldo Moreira disse à imprensa que Delgatti incriminou a deputada Carla Zambelli (PL-SP) apresentando provas de um depósito supostamente feito por assessores dela no valor de R$ 40 mil para que ele invadisse o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserisse informações falsas.
O depoimento de Delgatti à CPMI do 8 de Janeiro é um dos mais aguardados pelos membros da comissão desde o início dos trabalhos. Ainda nessa quarta-feira, o advogado do hacker obteve um salvo-conduto assinado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), para garantir o direito ao silêncio a Delgatti.
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